Deputado usa verba pública para patrocinar fotos pessoais sem camisa

Deputado usa verba pública para patrocinar fotos pessoais sem camisa

O deputado federal Célio Studart (PSD-CE) patrocina, com dinheiro público, posts com fotos sem camisa direcionados às mulheres jovens no perfil pessoal do Instagram, segundo levantamento do Núcleo feito na página do político na Biblioteca de Anúncios da Meta. A principal bandeira do parlamentar de 36 anos é a defesa da causa animal. 

Em 2023, Studart foi o quinto deputado que mais gastou com redes, cerca de R$50 mil só no Instagram. No total, até R$5.500 desse valor pode ter ido para 14 anúncios biscoiteiros, por volta de 11% do investimento total. 

Em um anúncio de abril de 2023 que usou a cota, por exemplo, o deputado exibe sem camisa sua tatuagem no braço, com o desenho de um cachorro. “Alguns tatuam nome de namorada ou namorado. Eu prefiro apostar em um amor que sei que é incondicional! Os anjos!”, diz a legenda, em referência aos animais.

Neste ano, só entre fevereiro e março, o deputado impulsionou por volta de R$2.300 na promoção de oito anúncios que não tinham mensagens políticas ou atividades parlamentares, mas traziam selfies dele na academia ou curtindo carnaval. 

Essas publis ainda não foram pagas pelos cofres públicos, mas Studart pode ser ressarcido pelo custo, se quiser. A Câmara indeniza deputados por gastos com “divulgação da atividade parlamentar”. Foi o que ele fez ao longo de 2023, quando usou a cota de gabinete. 

Procurado pelo Núcleo Jornalismo, o gabinete do parlamentar justificou que “as métricas das redes sociais do deputado mostram que o público feminino é majoritário, tanto no que diz respeito aos seguidores como também no engajamento das publicações”. Por isso, a segmentação para mulheres seria “natural”, disse. A nota do gabinete diz ainda que a maioria dos posts patrocinados tem a ver com as bandeiras do mandato. “Importante pontuar que gastos com impulsionamento de conteúdos em redes sociais são uma prerrogativa dos mandatos e integram a CEAP, a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar.”

 

Mulheres brasilienses SIM

A equipe do parlamentar justificou que o direcionamento para mulheres jovens que “há várias outras segmentações usadas nos impulsionamentos que vão além da questão de gênero”. No total, Studart tem 689 mil seguidores no Instagram. 

A biblioteca de anúncios da Meta, no entanto, mostra que o público feminino foi o alvo de 87,5% das publis do político em 2024. Já homens, nenhuma vez. Os 12,5% restantes se referem a direcionamentos selecionados para “todos”, ou seja, qualquer gênero, o que pode ou não incluir o público masculino. 

Um público-alvo de mulheres entre 18 e 24 anos viu as imagens mais de 250 mil vezes.

Além disso, mais de 95% dos anúncios do deputado foram marcados para atingir mulheres entre 18 e 24 anos, enquanto menos da metade visa o público feminino acima dos 45. “Mulheres mais novas costumam se envolver mais com conteúdos que têm algum apelo pessoal“, explica o jornalista Felipe Murta, analista digital que assessora campanhas políticas. 

Já para mulheres mais velhas, o melhor conteúdo costuma ser mais denso e menos pessoal, diz o jornalista. Ele, no entanto, não vê justificativa para que eleitoras jovens precisem ver selfies ou fotos do político sem camisa. “É um mau uso do dinheiro dele”, diz. “Isso cria uma fragilidade política ímpar.”

Não à toa, quando a publi de Studart é sobre política, como um projeto aprovado ou algum pleito, o público de mulheres jovens deixa de ser prioridade nos resultados de direcionamento da página, que passa a alcançar aquelas com mais de 35 anos. 

Outra característica curiosa, é que os anúncios de Studart preferem as jovens de Brasília, sede da Câmara dos Deputados, às cearenses, as suas eleitoras. Em nota ao Núcleo, o gabinete do deputado justificou o interesse no Distrito Federal afirmando que “o público que acompanha o perfil não é apenas do Ceará, mas de várias regiões do país”.

Só em 2024, quase 57% das publis de Studart incluíram segmentações para jovens brasilienses, enquanto as cearenses foram alvo de 46% desses gastos, segundo a biblioteca de anúncios da Meta. O gabinete não explicou detalhes do porquê.

Até o momento, o político gastou quase R$20 mil em anúncios na plataforma neste ano, mas só R$6 mil foram descontados do montante de sua cota parlamentar. O valor ressarcido é referente a publis de janeiro e não cobriu as biscoitagens de fevereiro e março.

“Todo parlamentar deveria usar o impulsionamento para dar luz ao seu trabalho, sendo responsivo a quem ele representa”, avalia Murta. “O problema é entender onde está o ‘accountability’ numa publi.

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